
Aos quatro anos de idade, Jessica Aparecida Cardoso Sacardo, 32, sofreu uma fratura no fêmur durante uma queda doméstica. A lesão, considerada comum na infância, resultou em várias complicações ao longo de sua vida que culminaram na escolha da bancária, em novembro de 2023, de amputar a perna.
A fratura do fêmur é relativamente comum e costuma ser curada facilmente com repouso e fisioterapia. No caso de Jessica, porém, o machucado afetou o crescimento do osso, levando ela a ter uma leve diferença de comprimento entre as pernas, de cerca de 2 centímetros. As tentativas de ajustar essa diferença acabaram culminando na amputação.
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Como é feito o pós-operatório de uma amputação?
- Dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) apontam que em média 85 pessoas passam por amputações de membros inferiores por dia no Brasil.
- A depender da altura da amputação, são tomados cuidados específicos: quanto maior a área, maior a dificuldade. O período pós-operatório de uma amputação envolve cuidados com a cicatrização e controle da dor.
- O processo de adaptação a uma prótese inclui três etapas: preparação do membro residual, uso de encaixe provisório com testes de marcha e, por fim, encaixe definitivo. O objetivo é garantir conforto, estabilidade e funcionalidade ao paciente.
- A reabilitação exige apoio de uma equipe variada. O uso de próteses também envolve acompanhamento contínuo por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, médicos e psicólogos.
Tratamento por alongamento
Mesmo que a menina ainda estivesse em fase de crescimento, um médico recomendou que fosse feito um procedimento de alongamento ósseo para corrigir a assimetria. O tratamento cria uma microfratura no osso e usa uma gaiola (fixador externo) para corrigir as deformidades ósseas.
Jessica passou cerca de seis meses com a gaiola, mas em vez de melhorar, o tratamento causou deformações e agravou a condição. “Foi um erro médico. Minha perna começou a ficar bem torta”, relata.
Quando a estrutura foi removida, o membro já apresentava encurtamento acentuado e deformidade. Ela deixou de usar a gaiola e abandonou o tratamento, mas conforme crescia, o encurtamento da perna ia se acentuando e passou a comprometer a mobilidade.
Cirurgias e quedas
Aos nove anos, um novo acidente agravou a situação. O fêmur foi fraturado novamente, e a família buscou outro especialista. A recomendação foi suspender qualquer tratamento de alongamento para evitar danos maiores.
Ao atingir a fase adulta, ela já possuía uma diferença de 24 cm entre uma perna e a outra. Jessica cresceu utilizando órtese para nivelar as pernas, escondendo a deficiência com calças largas e evitando se expor.
Em 2019, já adulta, porém, ela encontrou um médico que lhe recomendou um novo tratamento de alongamento, desta vez com haste interna, a ISKD. A cirurgia, conhecida como osteotomia, alinhou toda a estrutura da perna, mas trouxe complicações.
“Era um tratamento muito sofrido, eu sentia muita dor, tive trombose devido ao tamanho da cirurgia. Porém, seguimos. Só que devido à pandemia, meu tratamento ficou parado porque os materiais que eram importados não chegavam. Como a cirurgia mexeu muito na estrutura da minha perna, fiquei de muletas durante cinco anos e com muita limitação nos movimentos”, lembra ela.
Ainda assim, Jessica voltou ao trabalho e manteve a rotina como pôde. Até que, em 2022, ela sofreu uma nova queda em casa. A fratura no tornozelo, com tíbia e fíbula comprometidas, exigiria cirurgia, mas os médicos não queriam mexer em um caso tão complexo sem a presença do especialista que a acompanhava, que estava de férias. Jessica foi imobilizada com tala, mesmo com os ossos fora do lugar.
Gravidez inesperada e fraturas reincidentes
Enquanto esperava o médico voltar de férias, porém, Jéssica descobriu que estava grávida. “A cirurgia seria um risco para o bebê, então optei por não fazer. Fui medicada e fizemos apenas alguns ajustes na imobilização”, lembra.
Jessica passou a gestação com o tornozelo quebrado, em recuperação parcial e com limitações severas. Poucas semanas antes do nascimento da filha, Arya, uma nova queda fraturou novamente os mesmos ossos.
“Foi uma fratura muito dolorida, quase exposta. Senti muita dor e tive medo de perder minha filha. Lá no hospital mesmo conversei com minha família que seria a última vez que eu passaria por aquela situação”, conta.
O trauma da dor a fez tomar a decisão de amputar a perna. Ainda grávida, ela fez o pedido ao médico e procurou uma clínica de reabilitação para encomendar a prótese futura.





Jessica sofreu fratura aos quatro anos e depois passou por vários procedimentos na mesma perna
Reprodução/Instagram/jee_sacardoO tratamento errado a levou a ter uma diferença de 24 centímetros entre uma perna e outra
Reprodução/Instagram/jee_sacardoA última queda que Jessica sofreu foi durante a gestação. Foi quando ela decidiu amputar a perna
Reprodução/Instagram/jee_sacardoApesar das dificuldades do pós-operatório, Jessica afirma que nunca se sentiu tão livre quanto após a amputação
Reprodução/Instagram/jee_sacardoNova fase começou após nascimento da filha
Arya nasceu em julho de 2023 e a cirurgia de amputação foi realizada cinco meses após o parto. A transição exigiu adaptação e enfrentamento da dor fantasma.
“Foi uma virada de chave na minha vida, claro que o começo não é fácil. Eu tinha muita dor fantasma, muitas limitações. Até poder usar a prótese, tive que esperar alguns meses por causa da inflamação nos pontos. Mas comecei minha reabilitação assim que pude”, diz.
Mesmo com as dificuldades iniciais, Jessica afirma que a amputação foi a melhor escolha. “Ganhei liberdade. Nunca tive isso na vida inteira. Antes, apenas vivia como conseguia. Hoje, posso sair com minha filha, cuidar dela, caminhar com ela”, afirma.
Fraturas infantis podem gerar sequelas graves
Especialistas alertam que fraturas na infância, se mal tratadas, podem resultar em complicações duradouras. Segundo a fisioterapeuta Maria Laura Cardoso, de Brasília, sem o correto acompanhamento pode ocorrer até a morte do tecido ósseo e infecções que levam à necessidade de amputação.
“Além disso, especialmente em crianças, pode haver desenvolvimento desigual dos membros, levando a alterações na postura e na marcha, o que exige um acompanhamento próximo e intenso para evitar que o caso se agrave. Quanto antes o atendimento multidisciplinar começar, melhor”, indica.
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